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Liturgia dominical

 
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O TERÇO
O TERÇO

Uma breve história do Rosário da Virgem Maria
 Origem e evolução do terço
Uma breve história do Rosário da Virgem Maria
 
                   

O Papa João Paulo II decidiu celebrar as suas bodas de prata papais com uma   oração, o Rosário da Virgem Maria. Dado que é apenas a quarta vez na História   que a Igreja celebra os 25 anos de um pontificado, (depois de S. Pedro, que foi   Papa do ano 32 a 67, do beato Pio IX, Papa de 16 de Junho de 1846 a 7 de   Fevereiro de 1878 e do seu sucessor Leão XIII, Papa de 20 de Fevereiro de 1878 a   20 de Julho de 1903), esta decisão tem grande relevo histórico e profético.
                        1- O Nascimento do Rosário
                        O Rosário é uma oração cuja origem se   perde nos tempos. A tradição diz que foi revelado a S. Domingos de Gusmão   (1170-1221), numa aparição de Nossa Senhora, quando ele se preparava para   enfrentar a heresia albigense.
                        Parece não haver muitas dúvidas de que o   Rosário nasceu para resolver um problema importante dos novos frades   mendicantes. De fato, os franciscanos e dominicanos estavam a introduzir um novo   tipo de ordem religiosa no século XII, em alternativa aos antigos monges,   sobretudo Beneditinos e Agostinhos. Estes, nos seus mosteiros, rezavam todos os   dias os 150 salmos do Saltério. Mas os mendicantes não o podiam fazer, não só   por causa da sua pobreza e estilo de vida, mas também porque em grande parte   eram analfabetos.
                        Assim nasceu, nos dominicanos, o Rosário, o “saltério   de Nossa Senhora”, a “Bíblia dos pobres”, com 150 Ave-Marias. Um pouco mais   tarde, em 1422, pelas mesmas razões, os franciscanos criaram a Coroa Seráfica,   uma oração muito parecida, mas com estrutura ligeiramente diferente (tem sete   mistérios, em honra das sete alegrias da Virgem, os mistérios Gozosos, trocando   a Apresentação no Templo pela Adoração dos Magos e os dois últimos Gloriosos,   acrescentando mais duas Ave-Marias em honra dos 72 anos da vida de Nossa Senhora   na Terra).
                        Mas é preciso dizer que, nessa altura, não havia ainda a Ave   Maria. Já desde o século IV se usava a saudação do arcanjo S. Gabriel (Lc 1, 28)   como forma de oração, mas só no século VII ela aparece na liturgia da festa da   Anunciação como antífona do Ofertório. No século XII, precisamente com o   Rosário, juntam-se as duas saudações a Maria, a de S. Gabriel e a de S. Isabel   (Lc 1, 42), tornando-se uma forma habitual de rezar. Em 1262 o Papa Urbano IV   (papa de 1261-1264) acrescenta-lhes a palavra “Jesus” no fim, criando assim a   primeira parte da nossa Ave Maria.
                        Só no século XV se acrescenta a   segunda parte de súplica, tirada de uma antífona medieval. Esta fórmula, que é a   atual, torna-se oficial com o Papa Pio V (1566-1572). Grande reformador no   espírito do concílio de Trento (1545-1563), S. Pio V é o responsável pela   publicação do Catecismo, Missal e Breviário Romanos surgidos do Concílio, que   renovam toda a vida a Igreja. Foi precisamente no Breviário Romano, em 1568, que   aparece pela primeira vez na oração oficial da Igreja a Ave-Maria.
                        2- A   Batalha de Lepanto e a festa de Nossa Senhora do Rosário
                        O contributo de   S. Pio V, um antigo dominicano, para a história do Rosário não se fica por aqui.   O grande reformador criou também o último grande momento da antiga Cristandade,   a unidade dos reinos cristãos à volta do Papa. Os turcos otomanos, depois do   cerco e queda de Constantinopla em 1453, o fim oficial da Idade Média, e das   conquistas de Suleiman, o Magnífico (1494-1566, sultão desde 1520), estavam às   portas da Europa. Dividida nas terríveis guerras entre católicos e protestantes,   a velha Europa não estava em condições de resistir. O perigo era enorme.
                        Além de apelar às nações católicas para defender a Cristandade, o Papa   estabeleceu que o Santo Rosário fosse rezado por todos os cristãos, pedindo a   ajuda da Mãe de Deus, nessa hora decisiva. Em resposta, houve um intenso   movimento de oração por toda a Europa. Finalmente, a 7 de Outubro de 1571 a   frota ocidental, comandada por D. João de Áustria (1545-1578), teve uma   retumbante vitória na batalha naval de Lepanto, ao largo da Grécia. Conta-se que   nesse mesmo dia, a meio de uma reunião com os cardeais, o Papa levantou-se,   abriu a janela e disse “Interrompamos o nosso trabalho; a nossa grande tarefa   neste momento é a de agradecer a Deus pela vitória que ele acabou de dar ao   exército cristão”.
A ameaça fora vencida. Este foi o último grande feito   da Cristandade. Mas o Papa sabia bem quem tinha ganho a batalha. Para louvar a   Vitoriosa, ele instituiu a festa litúrgica de ação de graças a Nossa Senhora das   Vitórias no primeiro domingo de Outubro. Hoje ainda se celebra essa festa, com o   nome de Nossa Senhora do Rosário, no memorável dia de 7 de Outubro.
                        3 -   O rosário até João Paulo II
                        A partir de então, o Rosário aparece em   múltiplos momentos da vida da Igreja. Já no fresco do Juízo Final, pintado por   Miguel Ângelo (1475-1564) na Capela Sistina do Vaticano de 1536 a 1541, estão   representadas duas almas a serem puxada para o céu por um Terço. São as almas de   um africano e de um asiático, mostrando a universalidade missionária da oração.
                        A 12 de Outubro de 1717, foi retirada do rio Paraíba uma imagem de Nossa   Senhora com um Terço ao pescoço por três humildes pescadores, Domingos Martins   Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, em Guaratinguetá, São Paulo. Essa estátua,   de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, foi declarada em 1929 Rainha e   Padroeira do Brasil.
                        A Imaculada Conceição rezou o Terço com Bernadete   Soubermos (1844-1879) nas aparições de Lourdes em 1858. O Papa Leão XIII “Papa   do Rosário”, como lhe chama a recente Carta Apostólica do Papa (n.º 8) dedicou   mais de 20 documentos só ao estudo desta oração, incluindo 11 encíclicas.                         Também o Beato Bártolo Longo (1841-1926) é um os grandes divulgadores do   Rosário, como o refere a recente Carta Apostólica (n.º 8, 15, 16, 36, 43).   Antigo ateu, espírita e sacerdote satânico, depois da sua conversão viu na   intercessão de Nossa Senhora a sua única hipótese de salvação. Sendo advogado,   em 1872 deslocou-se à região de Pompéia por motivos profissionais e ficou   chocado com a pobreza, ignorância, superstição e imoralidade dos habitantes dos   pântanos. Entregou-se a eles para o resto da vida. Arranjou um quadro da Senhora   do Rosário, que fez vários milagres e criou em 1873 a festa anual do Rosário,   com música, corridas, fogo de artifício. Construiu uma igreja para essa imagem,   que se veio a tornar no Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia. Fundou   uma congregação de freiras dominicanas para educar os órfãos da cidade, escreveu   livros sobre o Rosário e divulgou a devoção dos «Quinze Sábados» de meditação   dos mistérios.
                        Outro grande momento da divulgação do Terço é, sem   dúvida, Fátima. “Rezar o Terço todos os dias” é a única coisa que a Senhora   referiu em todas as suas seis aparições. A frase repete-se sucessivamente, quase   como uma ladainha, manifestando bem a sua urgência e importância. Na carta do   Dr. Carlos de Azevedo Mendes, num dos primeiros documentos escritos sobre   Fátima, afirma-se “Como te disse examinei, ou antes, interroguei os três em   separado. Todos dizem o mesmo sem a mais pequena alteração. A base principal que   de tudo, o que me dizem, deduzi é «que a aparição quer que se espalhe a devoção   do Terço»”
A história do Rosário não pode terminar sem referir um   momento decisivo desta evolução. A escolha do Papa João Paulo II de celebrar as   suas bodas de prata pontifícias com o Rosário, acrescentando-lhe os cinco   mistérios luminosos, é um marco importante na devoção. Mas a ligação do Papa a   esta oração não é de hoje, como ele mesmo diz na Carta: “Vinte e quatro anos   atrás, no dia 29 de Outubro de 1978, apenas duas semanas depois da minha eleição   para a Sé de Pedro, quase numa confidência, assim me exprimia: «O Rosário é a   minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na   profundidade.»“ (n.º 2)
                        João César das Neves                       Professor UCP