O que mais prezavam os medievais:
a honra
“Ouvi vós todos, nobres burgueses e aldeães, e não fazei nenhum ruído, vós outros que estais pelos cantos! Mas sei que todos ireis ouvir, nobres, burgueses e aldeães, com a maior atenção, pois ...vos falarei da Honra”. Falava-se da Honra, cantava-se a Honra – pois acabo de citar o início de um poema do século XII, e tais poemas, consagradas à Honra, substituíram, em grande parte, o jornalismo hodierno. Falava-se a todos da Honra, ao povo como aos Barões, e todos, aldeães como nobres, tornavam-se atentos e admirados quando se falava da Honra. Eis o primeiro e maior dos signos característicos dessa época, o fato pelo qual a Idade Média domina toda a História da França até hoje. Porque ainda que a idéia mestra da sociedade tenha sido mudada, ainda que a Revolução tenha trocada a Honra pelo bem-estar, como ideal social, são ainda os restos dessa antiga Honra que fazem pulsar o coração da França nos grandes dias solenes; que sustentam sua alma no alto; que nos mantém unidos quando a nova teoria tende a fazer de cada um de nós o ríspido concorrente de seu vizinho; e que nos dão alguma força de resistência contra o inimigo externo e seus melhores aliados, os revolucionários. Ter criado a Honra, não é pois somente uma glória européia para a Idade Média francesa, mas é também um serviço de primeira ordem prestado à pátria. Ela a criou como um artista de gênio que forma uma estátua admirável com restos esparsos. Com efeito, a consciência humana e os heróis dos tempos antigos tinham fornecido ao Catolicismo os materiais e algumas peças de um belo modelo. Mas a Honra, sendo o sacrifício contínuo dos baixos instintos da humanidade aos seus mais altos sentimentos, só o Cristianismo dela podia fazer um hábito individual; e só uma sociedade dócil ao Cristianismo podia impô-la como ideal geral. A Idade Média, à força de pregá-la, de mostrar não só seus aspectos sublimes, mas também úteis; à força de a reverenciar, de admirá-la e de tudo lhe sacrificar, fez dela um instinto novo. Esse instinto elevou os pequenos até os grandes e os grandes até os pequenos. A Honra teve uma filha: a Fidelidade, da qual nasceu a Cavalaria. A Fidelidade, que os antigos apenas entreviram, a Fidelidade até à morte, até à ruína, até o sacrifício dos sentimentos mais caros! A Fidelidade, não a título heróico, com em um Régulus em quem o esforço sente-se no próprio maravilhamento dos contemporâneos. Não a Fidelidade prestada aos Imperadores romanos, que se divinizavam como se a Fidelidade precisasse de uma desculpa, e que degolavam seus súditos para mostrar que tal Fidelidade era artificial! Mas a Fidelidade tornada heroísmo diário, irrefletido e, mais uma vez, feito instintivo. A Fidelidade dócil ao dever mais difícil. Fidelidade ao juramento ante qualquer coisa, por mais desprezível ou odiável, que pudesse acontecer ao homem sagrado por esse juramento. A Honra levou, pois, a Fidelidade até o martírio, assim como ajudou a bravura a ser facilmente heróica e o desinteresse a não temer a miséria. Para bem compreender essa Honra, precisaríamos interrogar cada frase que a História nos conservou de São Luís IX. Reconstruir-se-ia assim o código da Honra, pois o Santo Rei foi disso a mais reta encarnação e mostrou todas as delicadezas da honra, como toda a força e toda a eqüidade. A Honra não estava alheia àquele ódio que a Idade Média mostrou perseverantemente contra os usurários judeus que pareciam estar, por sua ganância, patifaria e covardia, nas antípodas da Cavalaria. À Honra também é devida à hostilidade que a França, enquanto conservou sua grandeza, teve contra essas sociedades secretas, sempre fundadas sobre princípios opostos à Honra. (Fonte: Charles de Ricault d'Héricault, “Histoire Anecdotique de la France”, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, T. II, pp. 327-330.) Veja mais fotos: http://gloriadaidademedia.blogspot.com.br/2013/02/o-que-mais-prezavam-os-medievais-honra.htmlVer mais